quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

CRONOS AO MEIO


36. Estou mais ou menos ultrapassando a metade da vida de um homem com excessivos hábitos, bem como com uma genética que não brinca. É provável (quero acreditar) que os avanços da ciência me façam vencer tranquilamente os 70 e, quem sabe, chegar aos 80 dançando. Pode ser, mas seguindo a cruel matemática da minha história masculina familiar, estou mesmo passando da metade. Metade simbólica, aliás. Metade sonho, metade verdade. Metade separada, dividida. Novo e Velho Mundo. Amor e Vontade. 

É mesmo como uma laranja, agora separada pedaço a pedaço por um oceano. Separada também pelos desejos saciados e insaciáveis. Por aventuras e engenhos do destino. Pelo sim e pelo não. Separada como fruta, e como fruta com sementes. Sementes plantadas, firmes na terra, e outras jogadas sobre a superfície, esperando terra e chuva. Esperando retorno, talvez. E sempre conforto. Esperando mais amor para brotar ou renascer. 

quarta-feira, 27 de junho de 2012

Sem lugar



A dor é um inquilino triste. Vive no nosso corpo sem permissão de dar opinião, mostrar a cara na sala, sentar-se à mesa. Indesejada, mas presente. No corte bobo do dedo, na cabeça preocupada, na carne que se machuca por aquela batida na quina da estante. A dor faz parte da vida, é uma de suas caras, faz morada na gente sem a gente querer. É sim um inquilino triste, pois é sombra do que queremos viver na gente. Se der trégua, dor quer festa, sonha correr pela casa, subir e descer escada, querendo quarto só seu, com fronha nova no travesseiro. Sinto informar Dona Dor, volta lá pro quartinho de bagunça, fica lá perdida entre tudo de inútil que uma vida acumula. Sabe o que é, a casa já tá cheia. Tem sorriso demais morando aqui. 

sexta-feira, 4 de maio de 2012

Sorrisos no palco


Sei lá, até queria gritar, chorar sangue, ter unhas grandes pra arrancar minha carne e demonstrar que o sofrimento é coisa dilacerante.
Mas não, não consigo.
Não consigo sofrer ardorosamente, mesmo que o motivo seja digno da maior dor do mundo. E é.
Tudo culpa da Mônica. Que danada de mulher que não soube fazer outra coisa que não fosse me ensinar a sorrir. A mim e às meninas: sua prole. Por culpa dessa minha mãe, tudo que vemos é amor, intenso e abundante. Mesmo agora.

Guerreira que só soube enfrentar qualquer sofrimento, de carne e de alma, com armas de alegria, com palavras de confiança, com a bravura de quem teme, mas acredita, amando a vida sempre e tanto.

Brava Mônica, mesmo que seu sorriso não se manifeste nesse momento à nossa frente, ele está bem plantado em nós.
Para cada lágrima que derramamos, não tenha dúvida, são mil sorrisos seus a nos usar de palco.
Você explode em nós a cada gargalhada que soa alto, como a absurda gratidão por sermos filhos seus. Te amamos descontroladamente, despudoradamente, escancaradamente. Eterno sorriso nosso que você é.

segunda-feira, 26 de março de 2012

Cadê meu jeito, menino?

E de repente tudo muda. E muda o jeito. Muda completamente, como se nunca tivesse sido diferente. Mas era mais colorido e mais divertido e mais sonhador. O jeito era louco desmedido e, agora sem jeito, faz contas, tá desbotado, tá pé no chão. Cadê o meu jeito, menino? Cadê o meu jeito-menino? Cadê?

segunda-feira, 5 de março de 2012

Belevidência


Já vi tantas coisas belas. 
Mas ver beleza nas coisas é que é privilégio. 


segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Des.affair







Dez.tinos. Pois dezenas, múltiplos, muitos tinos des: miolados, atinados, controlados, inibidos, embestados, alinhados... O meu destino é ser feliz, des.encavando seja o que for, des.enrolando seja o que seja, des.mascarando a mim mesmo pra descobrir quem eu sou de verdade. E sou de verdade. E verdadeiramente feliz. Des.trambelhei e que bom que o fiz. Des.apeguei e é assim que eu quis. Des.afiei des.afinado. DESTINO. Que fantástico você é, seu doido. Foi dez.