domingo, 26 de dezembro de 2010

Saudade de fim-de-ano



No fim de um ano, a saudade que compreende ser ainda saudade é meio como um foguete que não explode no primeiro minuto do dia primeiro. Ela é intensa nesse período, a saudade, porque grita de expectativa, como um beijo guardado, um abraço não dado, o cesto de flores arremessado nas águas para Iemanjá e que não sabemos se vai voltar com a maré.


No fim de cada ano, a saudade aperta porque aperta a vontade de que num novo ano a saudade deixe de ser saudade. Passe a ser realidade e volte à sua condiçao de apenas alento temporário, unha comida, vontade de novamente.


No fim de tudo, saudade nunca quer ser saudade. Quer sair logo da sua condição de existência. E, como passagem, ser logo linha de chegada e recomeço.


É, a saudade de fim-de-ano é mais intensa e verdadeira. Porque saudade ama contar horas e minutos, mesmo morrendo de medo de ser eterna. Ama reparar nos dias, entristecer com as noites e sonhar com as possibilidades da manhã do amanhã. Ama porque vence a maldade do tempo sonhando com um tempo que firmou no olhar, que congelou dentro de si.


Saudade de fim-de-ano dói, porque contando os dias, meses e anos, saudade espera não ser mais espera. Deseja ser apenas o reencontro, o molhado de novo do beijo, o calor daquele abraço apertado, a oferenda florida tragada e aceita pelo mar. Saudade quer mesmo é ser fogo de artifício e explodir sim, como num céu de Copa à meia-noite, queimando o ar e a si mesma, brilhando em milhares de pedaços flamejantes e efêmeros, como os minutos que tolerou sendo o que era sem querer ser.


Feliz Ano Novo. De saudades saciadas e de novos motivos pra ter tantas saudades. 

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Meu ano 7

Final de ano e começam os delírios místicos e astrológicos. Hoje acordei e, antes mesmo de tomar o café, já estava me perdendo em meio aos números e previsões para 2011. Talvez seja efeito de estar à beira dos meus 34 anos. Faço a banal soma: 3+4=7. Decido fazer as contas para o meu ano pessoal e...7. Ótimo sinal. Afinal, o sete é considerado um número sagrado e mágico, repleto de simbologia e fundamental em todas as teogonias, filosofias e religiões desde a mais remota antiquidade. Resolvi escarafunchar nos meus sete arquivos e encontrei uma crônica que publiquei em 07/07/2007, data que marcou a única aparição tripla do 7 no século XXI.  


É sábado, meu dia preferido entre os sete da semana. Acordo tarde, pois já basta levantar às 7h, de segunda a sexta. Soneca, um gato que tenho há sete anos (tão preguiçoso quanto o mais lento dos sete anões da Branca de Neve), chama a minha atenção para a janela do quarto, onde ele pinta o sete despreocupadamente, ignorando os riscos de viver no sétimo andar (o que não parece ser mesmo um grande problema para alguém com sete vidas).

Lá fora, uma chuva ralinha, atípica no inverno, cai enquanto o sol, um dos sete planetas da astrologia clássica, faz força para se abrir. Ao fundo, surge um arco-íris, dos grandes, com suas sete cores bem nítidas. Coisa bonita de se ver, não fosse essa dor de cabeça. Creio que é a ressaca daqueles sete drinks de ontem. Para melhorar, me ensinaram, basta pressionar a testa no ponto do terceiro olho ou anja, um dos sete chakras do corpo. Mas, com a aguda cantoria matinal da minha vizinha, acho difícil a dor de cabeça passar. Ela possui um dos sete atributos fundamentais de Alá: a potência. Nesse caso, vocal. E consegue usar, no tom mais alto, cada uma das sete notas musicais. Nada pior para começar o meu dia. Essa senhora, que mais parece a personificação das sete pragas do Egito, de uma só vez, me faz cometer, antagonicamente, dois dos sete pecados capitais: a ira e a preguiça. Afinal, apesar da raiva e da cabeça latejando, não tenho ânimo sequer para levantar da cama.

Talvez eu abra a Bíblia e leia os sete salmos da penitência. Talvez, mais tarde, ligue a TV. E nesse caso, só preciso decidir entre a novela das sete e a cerimônia de escolha das sete novas maravilhas do mundo. Fico com a segunda. Mas, e se o Cristo não vencer? Por via das dúvidas, talvez eu saia de casa e pegue um cineminha. Em cartaz, a continuação do Quarteto Fantástico. Alguém me disse que o filme é bacana, mas que falta alguma coisa. Óbvio que falta: eles são quatro ao invés de sete...